A história do Boeing 737MAX foi esquecida por muitos, mas agora, 5 anos depois do primeiro acidente fatal, iremos relembrar como a sede por dinheiro da fabricante americana levou à morte de 346 pessoas.

Desde o seu lançamento o modelo 737 foi muito aclamado e requisitado pelas companhias aéreas, tanto pela sua segurança, como a sua tecnologia, e com as novas versões “NG” mais econômicas que as primeiras versões do modelo, a Boeing colocou o 737 no topo das aeronaves comerciais mais usadas do mundo. Mas esse feito não agradava muito do outro lado do oceano atlântico, onde a sua rival Airbus com o seu modelo A320 tentava destronar um reinado de quase 55 anos da gigante americana no mercado de narrow-body.

O começo da reviravolta

Em dezembro de 2010 a gigante europeia airbus anunciou um novo projeto intitulado A320NEO, uma nova versão da família A320 que iria trazer mais benefícios de eficiência de combustível, este anúncio fez um rebuliço nos escritórios da Boeing em Seattle, e em Agosto de 2011 a gigante Americana anunciou a sua nova aeronave, o 737Max,  que iria apresentar motores mais eficientes em termos de consumo de combustível, atualizações aerodinâmicas e avanços na tecnologia de cockpit, este novo modelo teria 4 diferentes configurações (MAX 7,MAX 8,MAX 9,MAX 10). A Airbus enfrentou alguns atrasos no projeto A320NEO e entregou a sua primeira aeronave em Janeiro de 2016, mas foi a fabricante Americana quem sofreu mais com atrasos na primeira entrega, devido a problemas durante o desenvolvimento e na certificação, o 737MAX foi apenas entregue em maio de 2017, nessa data a gigante europeia já contava com 113 aeronaves da nova geração entregues. 

Mas os grandes problemas para a Boeing só iriam começar em Março de 2018 quando dois acidentes do mesmo modelo (737MAX 8) no espaço de 5 meses tiraram a vida a 346 pessoas, o mundo começou a questionar-se sobre a segurança deste modelo, e a 13 de março o modelo 737MAX perdeu a autorização de voar, enquanto uma investigação decorria para se tentar perceber como 2 aeronaves do mesmo modelo com menos de 1 ano de serviço caíram poucos minutos após a descolagem, com uma grande semelhança entre os dois acidentes. 

O Grande Erro

Quando foi anunciado o 737MAX foi muito aclamado por ser mais econômico que as versões anteriores da aeronave e sem ser necessário treino adicional para os pilotos que operavam as versões anteriores do 737, o que iria reduzir ainda mais o custo de operação da aeronave  para as companhias aéreas, mas durante o desenvolvimento do projeto, um novo problema surgiu. 

Toda a aeronave tem um limite mínimo a que o motor pode ficar do solo, mas com os novos motores usados no 737MAX  que eram significativamente maiores, a aeronave não respeitava esses limites, para corrigir isso, os engenheiros da Boeing decidiram elevar um pouco o motor em relação a asa, essa modificação alterou a aerodinâmica da aeronave especialmente em momentos de ângulo de ataque elevado. Nesses momentos críticos do voo, a nova configuração dos motores poderia criar uma tendência de elevação do nariz da aeronave, que poderia levar a uma situação de estol. Para corrigir esse problema a Boeing implementou um sistema (MCAS), que quando detectava que a aeronave estava em um ângulo de ataque elevado e em risco de entrar em uma situação de estol, ele automaticamente ajustava o ângulo do estabilizador horizontal na cauda da aeronave para baixo, o que fazia com que o nariz da aeronave se inclinasse para baixo. Isso ajudava a evitar um estol potencial. Mas o que parecia ser uma solução para um problema, tornou-se uma dor de cabeça para a gigante norte americana, com a implementação deste novo sistema na aeronave, agora todos os pilotos teriam de passar por um treinamento para pilotar este novo modelo, o que iria trazer custos adicionais às companhias aéreas, para prevenir isso a Boeing entrou em contato com a FAA (Órgão que regula a aviação no EUA) pedindo autorização para remover dos documentos oficiais da aeronave o sistema MCAS, o pedido foi aceite, e assim a Boeing resolveu todo os problemas envolvendo o novo modelo e sem adicionar custos adicionais às companhias aéreas. Mas estas decisões acabariam por sair muito caro à fabricante americana no futuro.

O MCAS tornou-se o vilão da História

Quando a investigação dos dois acidentes foi concluída e a causa do acidente tornada pública, um nome saltava à vista de todos, o novo sistema da Boeing 737MAX foi um dos responsáveis pela queda das duas aeronaves, segundo as investigações o MCAS foi ativado devido a leituras incorretas dos sensores de ângulo de ataque, fazendo com que a aeronave respondesse erroneamente. Em ambas as situações, o MCAS empurrou o nariz da aeronave para baixo de maneira repetida e agressiva, colocando a aeronave em uma trajetória de mergulho que os pilotos tiveram dificuldade em controlar. Junto com o mau funcionamento do MCAS, a falta de conhecimento deste novo sistema na aeronave por parte dos pilotos e treinamento insuficiente em relação a este novo modelo, 346 pessoas perderam a vida.

O Verdadeiro Vilão

Nesta História o grande vilão não foi a Boeing ou o MCAS ou a FAA, o grande vilão foi o dinheiro, a tentativa de criar algo que fosse atrativo e rentável para as companhias aéreas e que ao mesmo tempo combatesse o novo projeto da sua principal concorrente no outro lado do atlântico, levou a Boeing a cometer uma série de erros que custaram a vida de 346 pessoas, o mundo da aviação não perdoa erros e a Boeing sentiu isso.

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